segunda-feira, março 26, 2007

Spider-girl

Foto 'gamada' daqui

Ai, Maria, Maria...

Pois um dos pares de jarras que tenho lá em casa (daqueles que fazem miau e ronron) decidiu tornar-se assim um descobridor português versão felina, daqueles que se aventuram por quintais nunca antes explorados.
Acontece que o quintal que a Maria decidiu explorar ontem não tem saída... e quando digo não tem saída é porque se encontra a uma altura de andar e meio do meu telhado e, das duas portas que lhes dão acesso, uma está permanentemente fechada e a outra dá para uma casa que está temporariamente vazia de gente.
A Maria passou a noite ao relento a miar com os seus pulmõezinhos de corneta, impedindo-me de dormir, quer pelo stress de a saber aflita, quer pelo barulho em si.
Fiquei até às 3 da matina debruçada no meu telhado, a apanhar frio, tal como ela, e a agarrar num cordel ligado à sua caixa de transporte, tentanto por tudo que a gata se sentisse tentada pela comida que lá pus dentro. Caso entrasse na caixa, puxava-a para cima e de volta a casa.
Cheguei a alternar o farnel com uma lanterna acesa e mesmo o meu robe, para ver se o cheiro a atraía. Mas a Maria é teimosa e estava demasiado assustada para se aventurar em mais um buraco desconhecido (o potencial elevador que eu tentei criar) e assim ficámos as duas e o seu irmão, o gato Manel, sem saber o que fazer até de manhã.
O Manel miou-me várias vezes, ofendido por ver que eu não socorria a ‘Maria Destravada’, mas o que se pode fazer às 04h30 quando o sono já levou a melhor, e a paciência se dissolveu no vento frio e na impossibilidade de me fazer entender a um membro de outra espécie?

Pelas 07h30, entre o canto das andorinhas, o arrulho enrolado de uns pombos e as tosses matinais dos vizinhos que despertavam, o desespero e a irritação eram tantos de decidi descer eu mesma e ver se havia uma outra hipótese de escapar aquele fosso.
Deixei-me cair pelo muro, pés primeiro e cheia de esperança que os meus olhos não me tivessem enganado nas distâncias. Esqueci-me convenientemente - e de certa maneira irresponsávelmente- que não fui mordida por uma aranha radioactiva e que os meus pés e mãos podiam escapar pela parede de cimento, oferecendo-me um encontro forçado com o chão, 5 metros abaixo.

Sei lá como nem porquê, tornei-me numa super-heroina e aterrei de pé. Lá conseguimos nos escapulir pelas traseiras da casa vazia (que não sei como tinha a porta da marquise aberta...) e saímos de cabeça erguida pela porta da frente (bem, eu ia de cabeça erguida, a Maria ia a estrabuchar por ainda não entender que eu a ia levar para casa).
Agora, algumas horas depois, a ‘radio-actividade’ dissipou-se e dói-me o joelho, a anca e os arranhões inflingidos pela minha companheira de bigodes brancos quando viu a vizinha do 2º andar surpreender-nos no nosso glorioso caminho de volta.
Ser o Peter Parker não é fácil e as mazelas e dores suportam-se melhor quando são nos filmes. Mas dá-me um gostinho especial saber que o meu corpo muito humano conseguiu por uns momentos se tornar em algo semelhante a um ‘yamakazi’.

Chouette!


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